quinta-feira, abril 04, 2024

Após 13 anos, açude Gargalheiras inicia sangria e sertanejos comemoram com fogos e orações

Transbordo não acontecia desde maio de 2011. Açude foi cenário da gravação do filme 'Bacurau' quando estava seco.

Por g1 RN e Inter TV Cabugi


Açude Gargalheiras sangra após 13 anos — Foto: Hugo Andrade/Inter TV Cabugi


Após 13 anos, o açude de Gargalheiras, na cidade de Acari, na Região Seridó do Rio Grande do Norte, iniciou a sangria por volta das 23h30 desta quarta-feira (3). A última vez que isso havia acontecido foi em maio de 2011.

No Gargalheiras, o transbordo acontece por uma parede de mais de 20 metros, proporcionando o que os sertanejos da região chamam de "véu de noiva" quando há a queda d'água, mas esse espetáculo ainda não começou.

👉 Contexto: A "sangria" é o termo usado quando o reservatório chega à sua capacidade máxima e transborda. Patrimônio histórico, geográfico, paisagístico, ambiental e turístico do Rio Grande do Norte, o Gargalheiras serviu de locação para o filme "Bacurau" em 2018 e é um dos maiores açudes do estado.

Apesar da sangria ainda tímida, houve fogos, orações e muita comemoração no local. Centenas de pessoas aguardavam a sangria às margens do Gargalheiras.

A emoção tomou conta de pessoas que não viam a sangria há muitos anos, e também de quem nunca tinha presenciado a cena, como Maria Luiza Rodrigues, que tem 9 anos.

"Estou achando incrível, é muito bonito. É minha primeira vez vendo e eu estava muito ansiosa. Eu só via os vídeos e muita gente falava que era muito bonito", disse.

A agricultora Larissa Mariana levou uma foto do pai, que faleceu há 10 meses, para cumprir uma promessa feita por ele há alguns anos.

"Ele, enquanto vida, disse que quando o Gargalheiras sangrasse ele vinha a pé pagar uma prece. Eu até falei: 'pai, como o senhor vai se mal está andando? E ele respondeu 'você me ajuda, eu vou sentando pelo caminho'. E hoje eu vim pagar a prece dele. Ele não está aqui em vida, mas sempre vai estar comigo", comentou.

'Vigília' com churrasco e forró

Desde a segunda-feira (1º), moradores da cidade de Acari e da Região Seridó do estado faziam uma espécie de "vigília" às margens do açude à espera da sangria. Na madrugada desta quarta-feira (3), por exemplo, houve forró, churrasco e até festa de aniversário no local.

O açude de Gargalheiras tem capacidade para armazenar mais de 44 milhões de metros cúbicos de água. Para se ter ideia do tamanho desse reservatório, ele é suficiente para abastecer uma população de 56 mil pessoas por cerca de 4 anos.

Período de seca e cenário de 'Bacurau'

Desde a última sangria, em 2011, o Gargalheiras passou por momentos difíceis com a falta de chuvas na região, chegando a ficar completamente seco em alguns momentos entre os anos de 2017, 2018 e 2019.


Kleber Mendonça, inclusive, compartilhou em uma rede social imagens que mostram o Gargalheiras em 2018, durante as gravações do filme, e neste mês de abril de 2024 (veja abaixo).

40 dias: de 1% de volume à sangria

Em cerca de 40 dias, o açude de Gargalheiras saiu de 1% de volume de água para a sangria. Em 22 de fevereiro, o açude tinha 1,63% do volume de água, de acordo com o Instituto de Gestão de Águas do RN (Igarn).

No relatório semanal mais recente divulgado pelo instituto, na quinta-feira passada (28), o Açude Gargalheira apresentava 36% de acúmulo de água - e esse já era o maior volume registrado no reservatório desde 2012.

Além das chuvas que caíram nos últimos dias no estado, o aumento no nível do Gargalheiras foi impulsionado também pela sangria do Açude Dourado, em Currais Novos, que levou parte da água para o açude de Acari.
_________________________________________________________________________________
Entenda o caminho das águas: para onde vai sangria do Açude Gargalheiras

Reservatório transbordou na noite desta quarta-feira (3), após 13 anos. Águas seguem para outros açudes do estado.

Por g1 RN e Inter TV Cabugi


Açude Gargalheiras sangrou na noite de quarta (3) — Foto: Cléber Dantas/Inter TV Cabugi

Após 13 anos, o açude de Gargalheiras, na cidade de Acari, na Região Seridó do Rio Grande do Norte, iniciou a sangria no fim da noite de quarta-feira (3). Com o transbordamento, as águas agora seguem por rios da região em direção a outros reservatórios do estado.

Parte das águas que ajudaram encheram o Gargalheiras já tinha saído de outro açude do Seridó, o Dourado, localizado em Currais Novos, que começou a sangrar em março.

Com o transbordamento do Gargalheiras (cujo nome oficial é Marechal Dutra), agora a água corre para o açude Passagem das Traíras, em Jardim do Seridó, depois para a Barragem de Oiticica, ainda em construção no município de Jucurutu, e devem chegar à Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, o maior reservatório hídrico do estado, entre os municípios de Assu, Itajá e São Rafael.


Mapa mostra caminho feito pela água, entre reservatórios no interior do Rio Grande do Norte — Foto: Inter TV Cabugi

Segundo Nelson Césio Santos, coordenador de regularização do Instituto de Gestão das Águas do Rio Grande do Norte (Igarn), o cenário representa segurança hídrica da população da região.

"O impacto é a melhoria na situação hídrica das reservas acumuladas no estado e também vai servir para um aumento da segurança hídrica das populações que são abastecidas pelo reservatório Armando Ribeiro Gonçalves - as cidades atendidas pela adutora Sertão Central Cabugi, as cidades da adutora do Médio Oeste. E também o uso da agropecuária ao longo do rio Piranhas-Açu. Todos vão se beneficiar porque vão ter mais segurança hídrica para o ano de 2024 e 2025", afirma.

O coordenador ainda explica que outros açudes da região Seridó, como Itans e Boqueirão, não encheram, porque não fazem parte da mesma bacia hidrográfica, e dependem de chuvas em outras áreas.

"No gargalheiras, a bacia é um pouco mais circular e mais concentrada. A chuva ocorre em toda a sua área e provoca um maior escoamento. E tem uma área bem maior, de 2,4 mil quilômetros quadrados", explica.

"Já o Itans está em uma bacia de 1,2 mil quilômetros quadrados. É a metade da bacia hidrográfica e é mais comprida. A chuva, ao ocorrer lá das nascentes, tem um longo percurso até chegar no açude e vai se infiltrando, também evapotranspirando e vai perdendo o seu escoamento até chegar lá. Do mesmo jeito ocorre no Boqueirão, de Parelhas", acrescenta.


Postar um comentário

Blog do Paixão

Whatsapp Button works on Mobile Device only

Start typing and press Enter to search